A Bíblia está repleta de passagens profundas, inspiradoras e também difíceis de compreender. Uma das mais polêmicas é: por que Deus mandou matar os povos de Canaã? Essa ordem, registrada especialmente no livro de Josué, levanta questões morais, espirituais e teológicas, sendo alvo de debates entre cristãos, judeus e estudiosos há séculos.
A resposta não é simples e envolve o contexto histórico, a soberania de Deus, a santidade exigida ao povo de Israel e a revelação progressiva que se cumpre plenamente em Jesus Cristo. Neste artigo, vamos analisar as principais interpretações sobre esse episódio, com base em diferentes correntes religiosas e visões teológicas.
O Que a Bíblia Diz Sobre a Destruição dos Povos de Canaã?
Diversos textos bíblicos mostram que Deus ordenou aos israelitas que expulsassem ou destruíssem os povos que habitavam Canaã, como os cananeus, amorreus, hititas, heveus, perizeus e jebuseus.
Essas ordens aparecem em:
- Deuteronômio 7:1-5 – Proibição de alianças e ordenança para destruir totalmente os povos.
- Josué 6 a 12 – Narrativas da conquista das cidades cananeias.
- Deuteronômio 20:16-18 – Ordem para eliminar completamente as cidades “que o Senhor te dá por herança”.
À primeira vista, essas ordens soam extremamente duras, especialmente considerando que envolviam não apenas soldados, mas mulheres, crianças e até animais.
Mas por que Deus mandaria algo assim?
Motivos Bíblicos para a Ordem de Destruição
1. Julgamento Divino por Pecados Graves
Segundo a Bíblia, os povos de Canaã viviam em práticas extremamente corrompidas: sacrifícios de crianças, rituais de magia, idolatria e imoralidade sexual. A destruição seria um ato de juízo de Deus.
“Por causa da impiedade dessas nações é que o Senhor, teu Deus, as lança fora diante de ti.” (Deuteronômio 9:4)
Deus estaria usando Israel como instrumento de sua justiça, da mesma forma que, futuramente, usaria impérios estrangeiros para julgar o próprio povo de Israel quando este se desviasse.
2. Prevenção Contra a Corrupção Espiritual
Outro motivo citado é o risco de o povo de Israel ser corrompido pelas práticas pagãs dos cananeus. Por isso, Deus ordenou separação radical.
“Para que não vos ensinem a fazer segundo todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses…” (Deuteronômio 20:18)
3. Cumprimento da Promessa a Abraão
A terra de Canaã havia sido prometida por Deus a Abraão e seus descendentes (Gênesis 15:18-21). A ocupação foi vista como o cumprimento de uma aliança divina.
Como Cada Corrente Religiosa Enxerga Essa Passagem?
Visão Evangélica
A maioria dos evangélicos entende o episódio como um juízo justo de Deus. Ele usou Israel para eliminar povos que praticavam grande perversidade. Teólogos reformados destacam a soberania divina e o plano maior de redenção, que exigia preservar o povo da promessa.
Alguns estudiosos modernos admitem que a linguagem bíblica pode ser hiperbólica, ou seja, exagerada para mostrar vitória completa, como era comum nos relatos militares da época.
Visão Católica
A Igreja Católica interpreta a Bíblia à luz da revelação plena em Cristo. As ordens do Antigo Testamento são vistas de forma tipológica: Canaã representa o pecado, e Israel representa a busca pela santidade.
A destruição física simboliza a necessidade de eliminar o pecado da vida do cristão. A leitura deve ser espiritual, não literal, segundo o Catecismo.
Judaísmo Tradicional
O judaísmo vê a conquista como cumprimento da promessa feita a Abraão e um julgamento divino justo. Há também registros rabínicos que indicam que os cananeus poderiam ter fugido ou se convertido, mas resistiram ao chamado de Deus.
Judaísmo Moderno
Já os judeus contemporâneos, especialmente os mais liberais, consideram essas passagens como relatos simbólicos ou históricos, e não defendem que tenham sido ordens literais de Deus.
Correntes Teológicas Liberais
Teólogos liberais argumentam que os textos refletem a mentalidade do povo antigo, que via guerra como forma de legitimar ocupações. Para essa visão, os relatos seriam interpretações humanas da vontade divina, e não ordens diretas.
O Que Jesus Ensinou Sobre Isso?
Jesus nunca ensinou violência religiosa. Pelo contrário, pregou o amor aos inimigos, o perdão e a paz. No Novo Testamento, Deus é revelado de forma plena como um Pai que deseja salvar, e não destruir.
“O meu Reino não é deste mundo.” (João 18:36)
Por isso, muitos cristãos entendem que a revelação do Antigo Testamento deve ser interpretada à luz do Novo, sem tomar como modelo de conduta os episódios de guerra.
Casos de Misericórdia Durante a Conquista
Mesmo em meio à guerra, há exemplos de graça e misericórdia:
- Raabe, a prostituta de Jericó, foi poupada por sua fé (Josué 2).
- Os gibeonitas enganaram Israel, mas foram poupados (Josué 9).
- Deus não destruiu todos indiscriminadamente. Houve espaço para arrependimento e salvação.
A Linguagem de Guerra no Contexto Antigo
É importante lembrar que a linguagem de “destruir tudo” era comum na literatura de guerra do Antigo Oriente. Muitas vezes, isso expressava vitória total, e não extermínio literal.
Isso ajuda a entender porque, mesmo após a suposta destruição, vemos cananeus ainda vivendo em várias regiões (Juízes 1).
Afinal, Por Que Deus Mandou Matar os Povos de Canaã?
A resposta envolve múltiplos fatores:
- Era um julgamento sobre povos extremamente ímpios.
- Visava preservar o povo de Israel da contaminação espiritual.
- Cumpria uma promessa feita por Deus a Abraão.
- Faz parte de um plano maior que culmina na redenção através de Cristo.
- Deve ser lida à luz do contexto histórico, do estilo literário e da revelação progressiva.
Hoje, os cristãos não são chamados à guerra física, mas à guerra espiritual contra o pecado. A verdadeira terra prometida agora é o Reino de Deus, acessível a todos pela fé em Jesus Cristo.
Quer entender mais profundamente passagens difíceis como essa? Estude a Bíblia com oração, contexto e orientação segura. A fé cristã é feita para resistir ao tempo e à razão — e as perguntas difíceis também têm resposta.
Quer ir mais fundo?
Se você gosta de estudar temas difíceis e quer entender melhor os mistérios da Bíblia, continue nos acompanhando. Vamos juntos descobrir como as Escrituras revelam, pouco a pouco, o plano perfeito de Deus para a humanidade.
